25 de mar. de 2009

Alternativas

A alta do dólar dos últimos meses poderá não ser suficiente para compensar a possível queda das exportações de frutas diante da desaceleração econômica dos EUA e da Europa, seus dois principais mercados. Para os exportadores, 2009 permanece uma incógnita. A expectativa é que, em grande parte dos casos, o consumo doméstico acabe por sustentar e repetir o desempenho do mercado em 2008.
Segundo o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), o setor fechou o ano passado com vendas externas de 888 mil toneladas, alta de 12,6% frente a 2007, o que representou US$ 724,3 milhões. No acumulado de janeiro e fevereiro deste ano, porém, os dados já mostram recuo no embarque de algumas frutas - melão e banana entre elas...

"A marola foi um pouco maior. Possivelmente haverá queda de exportação este ano", diz Maurício Ferraz, gerente da central de serviços de exportação do Ibraf. "O receio é grande: o dólar está alto e beneficia as exportações; em contrapartida, o produtor está descapitalizado e não pode trabalhar". Em 2008, ajudou ainda o fato de muitas culturas terem contratos negociados antes da crise financeira global, detonada em setembro.

Por ora, os produtores mesclam otimismo e cautela. No Ceará, a produção de frutas cresceu 17,6% em 2008 ante 2007, alcançando 649 mil toneladas de melão, abacaxi, melancia, mamão, banana e manga. Segundo José Ponchet, técnico do Instituto Agropolos, responsável pelo planejamento agrícola do Estado, as exportações impulsionaram a alta da produção. As vendas externas subiram 75,3% e a expectativa para este ano é de pelo menos manter o ritmo.

Para Antônio Erildo Lemos Pontes, diretor técnico da associação de exportadores Frutal, o polo de fruticultura do Ceará conseguiu se destacar devido à diversidade de produção. "Com o leque maior, fica mais fácil vendê-las porque não é um excesso de oferta", diz.

Após observar o fechamento de algumas fazendas por causa da crise mundial, o Vale do São Francisco, maior exportador de uvas e mangas do país, espera que o mercado interno possa resolver parte das frutas que iam para a exportação. "O mercado interno não está ruim. Há um fluxo contínuo que não foi abalado pela crise", diz José Gualberto, presidente da Valexport, associação de exportadores. Ele não faz previsões para a produção em 2009. "Se as pessoas perderem o medo, podemos vender mais. Ninguém deixou de comer fruta, mas os importadores estão receosos".
No sul, a expectativa é de um bom desempenho da maçã. A estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM) é que nesta safra sejam colhidas 935 mil toneladas de maçãs. O volume é 4% superior ao do ano anterior, quando a safra foi de 900 mil toneladas. Moisés Albuquerque, gerente-executivo da ABPM, destaca, porém, que se levado em conta o total de frutas que será destinado às indústrias pela má qualidade, a safra será menor que a passada: 710 mil toneladas contra 654 mil em 2007.

Segundo ele, é como se houvesse uma quebra porque 32% do total de maçãs que começam a ser colhidas serão direcionadas às indústrias por conta de granizo e frio tardio, que levaram ao aumento da ferrugem nos frutos (rusting), não possibilitando que essa maçã seja colocada no mercado de frutas frescas. As indústrias compram essas frutas para processamento. Em 2008, o descarte para a indústria foi inferior, com 19% da safra.

Até agora, os preços do mercado interno, segundo Albuquerque, refletem uma boa tendência para o produtor. Os valores de fevereiro estão mais altos do que em 2007. No caso da variedade gala, o valor é 5,7% superior, a R$ 1,10 o quilo, e na fuji chega a ser superior em 7,6%, com o quilo a R$ 1,70.

Por enquanto, diz Albuquerque, os importadores estão cautelosos, com pedidos de carregamentos mais tardios porque ainda há estoques. "O mercado externo está mais conservador, mas não está retraído para a maçã", disse, acreditando que a fruta poderá ganhar a preferência dos consumidores, que deixarão de consumir frutas exóticas e caras em tempo de crise.

Dirceu Colares, da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), com forte incidência da banana prata, diz que a cultura sofreu problemas pontuais de clima em 2008 em Santa Catarina e no Rio Grande do Norte desses Estados, quase tudo vai para o exterior. "Na nossa região, 99% é para consumo interno e com a economia ainda aquecida tivemos um ano bom". Com expansão de cerca de 5% no volume comercializado entre 2007 e 2008, o segmento registrou uma média de 690 toneladas da fruta embarcadas por dia.

Como nas demais culturas, 2009 permanece uma incógnita. "A crise chegou e tememos que o consumo caia aqui dentro", diz Colares. O norte de Minas Gerais, o Vale do Ribeira, em São Paulo, e Santa Catarina abastecem 50% do mercado de banana do país.


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