30 de mar. de 2009

Comprar ou não comprar, eis a questão.

Confesso que depois de ter assistido ao documentário “I.O.U.S.A - Os Estados Unidos da Crise” exibido no último domingo pelo canal 41 da NET (GNT) fiquei perplexo. Muito mais talvez, se algum noticiário tivesse anunciado o início da terceira guerra mundial. Afinal, no caso de uma guerra, meia dúzia de países apertaria meia dúzia de botões e, tudo estaria solucionado. Muito provavelmente, aqueles que sobrevivessem, passariam a viver na realidade aquela ficção hollywoodiana estrelada pelo grande Will Smith “I am the Legend”. Mas, a guerra que foi deflagrada, parece ser muito pior e, não sei, se a solução, não passaria por algo similar ao proposto no filme. Uma verdadeira “virada de ponta cabeça” na ordem econômica mundial e na reconstrução dos valores da humanidade. Nesta bela sacudida mundial, alguns milhões ficariam em pé,... outros sentados, alguns de joelhos e muitos desapareceriam. Parece muita ficção, mas, não nos esqueçamos que em 1960, a chegada do homem à lua só era aceita se escrita por Júlio Verne. Bastaram apenas alguns anos, para que a obra do autor se transformasse em realidade. Hoje, já se pode até, comprar pacotes turísticos para o outro planeta. A época, em que ficção ficava só na ficção, é pura ficção. Hoje, quando pensamos em algo inusitado e, até impossível, nos surpreendemos quando encontramos o produto sendo apresentado em alguma feira ou, em algum site. O homem provou a si mesmo que praticamente nada é impossível. Talvez, o grande desafio ainda seja uma solução para a morte. Entretanto, não sei qual seria a vantagem em alguém viver 400 ou 500 anos. Melhor mesmo é dar uma passadinha no outro lado, acertar as contas com o criador e, aguardar a nova chamada. Nova roupagem, novo espírito e novas esperanças. Só fico me perguntando, de que forma eu voltarei. Ou será que lá em cima, também se canta aquele famoso samba de Noel Rosa “E agora com que roupa eu vou pra nova vida que Deus me convidou” (claro que a letra não é assim, mas, a adaptação é válida). Voltemos a terra, que é onde estão os nossos problemas, e deixemos os assuntos do além, para além. Uma observação que faço, sempre que o mundo se vê diante de alguma situação “fora dos eixos”, é a invocação do passado, através de seus protagonistas, como forma de solucionarmos o presente, para que o futuro não seja pior do que aquele passado foi um dia. Mas, parece que a humanidade, não aprendeu nada com o seu próprio passado e, insiste em verificar se o resultado é o mesmo. Ou seja, reconstrói um passado errado, em um presente equivocado, olhando para um futuro incerto. É complicado, mas, filosofia é assim mesmo. É discutir o sexo dos anjos, sem saber se foi o ovo ou a galinha que veio primeiro. E como falávamos em protagonistas do passado, esta crise não poderia passar incólume sem a citação de alguns. No caso presente, a vedete, foi no princípio da crise (se é que ainda não estamos no princípio) o grande economista John Maynard Keynes. Tão logo soaram as primeiras trombetas de retração econômica da Jericó de Wall Street e os guardiões das bolsas saíram alardeando as boas-vindas ao grande salvador: Viva Keynes! Ave Keynes! Salve Keynes! Todo mundo falando em Keynes. Até o dono da padaria, perto de casa, me perguntou: Vai um Keynes hoje? Pensei que ele falava de alguma marca nova de cigarros. Keyns Slims. Keynes Light. Keynes foi vendido como a panacéia para esta crise. A teoria de que o momento é de comprar e, não poupar, ganha adeptos em alguns países e inimigos em outros. Aqueles que defendem sua teoria, firmam-se no discurso que esta é a única forma de manter a economia girando. Comprar! Comprar! Comprar! O Brasil é um deles. Tanto isso é verdade, que o governo, vem tirando imposto de tudo aquilo que pode, trilhando o perigoso caminho da renúncia fiscal, em alguns setores e, comprometendo a vitalidade de outros. O caso dos investimentos públicos, como as obras, é um deles. O que não dizer da redução tributária imposta aos estados e municípios, que por tabela, são atingidos diretamente. Até mesmo a poupança, reduto sagrado dos pequenos investidores sofreu ameaças, caso as taxas de juros de outras aplicações, as de interesse do governo, caíssem tanto, ficando no mesmo patamar da sua prima pobre, mas, sem a segurança que a poupança dá ao investidor. Afinal, este não é o momento para se baixar os juros? Não é esta a lição de Keynes? A redução nas taxas de juros, não levaria, em princípio, o consumidor de volta às compras? Mas, a toda ação, existe uma reação de igual intensidade. E parece que o governo não está muito disposto a sofrer esta reação. Então, como fica o coitado do Keynes? Fica adaptado à moda tupiniquim. Enquanto isso, na terra do Tio Sam, onde provavelmente tudo começou, o protagonista é outro, quem viveu alguns anos antes do Keynes. Alexander Hamilton é a “bola da vez”. Primeiro secretário do tesouro dos Estados Unidos. A ordem do dia no país mais consumista da face da terra é poupar. Ou seja, só comprar se você tiver dinheiro. Os americanos estão entre “o cartão de crédito e o dinheiro”. E como o dinheiro anda curto, as tentações são enormes. Os diabinhos financeiros andam em polvorosa. Temos então duas situações antagônicas. Aqueles que sempre compraram muito, agora são aconselhados a poupar muito mais. E aqueles que nem sempre pouparam muito, agora são intimados a não poupar e a comprar muito mais. Quem está com a razão? Keynes ou Hamilton? O mundo parece ter ficado sem compradores e repleto de vendedores. O protecionismo vem a galope e arma suas barricadas cada vez mais altas. E não adianta o Brasil dizer que “desta água não beberei”, porque vai ter que beber sim, nem que seja na “hora da onça beber água”. Tudo ainda está muito nebuloso e, nas incertezas, Hamilton vem levando alguma vantagem, mesmo a contragosto de nossas autoridades que garantem que era verdade a história da “marolinha”. O consumidor anda mais cauteloso e, somente aqueles que, tem os dois pés bem seguros no chão, arriscam manobras mais ousadas. Entre “keynesianos” e “hamiltonianos” acho mesmo que a solução está no meio, algo como nos ensina o budismo e este meio estou encontrando em um terceiro protagonista da história, Jean-Jacques Rousseau, em sua magnânima obra “A origem da desigualdade entre os homens”. Rousseau, nesta obra, tentou ensinar ao mundo o respeito entre os seres humanos, o amor pela natureza e a paixão pela liberdade. Ele mostra o caminho histórico percorrido pelo homem, passando do estado de natureza para o estado civilizado. Ele defende a volta ao estado natural, sob novas formas. É mais do que verdadeiro quando fala nas distinções: “Essa distinção determina suficientemente o que se deve pensar, nesse sentido, da espécie de desigualdade que reina entre todos os povos policiados, pois é manifestamente contra a lei da natureza, de qualquer maneira que a definamos, que uma criança mande num velho, que um imbecil conduza um homem sábio, ou que um punhado de pessoas nade no supérfluo, enquanto à multidão esfomeada falta o necessário”. Somos todos dotados do livre arbítrio, por isso, escolhamos o nosso protagonista.



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