30 de mar. de 2009

PODERÁ A RÚSSIA TORNAR-SE LÍDER ECONÓMICO MUNDIAL?

Direto da Câmara Brasil - Rússia
Nikolai Chmeliov, acadêmico, diretor do Instituto de Estudos Europeus da Academia das Ciências da Rússia

Muito me apraz ouvir dizer que a Rússia tem todas as potencialidades de tornar-se, num futuro próximo, líder econômico mundial, a par da China, Índia e do Brasil. Não excluo que isso possa acontecer num prazo de cinqüenta anos ou mesmo antes e que os EUA fiquem na dependência da China. A Rússia também tem condições para se desenvolver a ritmos impetuosos. No entanto, não podemos silenciar um aspecto tão importante como a sorte. Ninguém sabe se haverá ou não mais uma catástrofe global...
Enquanto isso, ninguém pode contestar que a Rússia está a recuperar aos poucos da vertiginosa queda econômica de 1998. O governo recentemente demitido pelo Presidente Vladimir Putin conseguiu estabilizar a economia, acalmar o país e levar as reformas por adiante, embora a ritmos moderados, não tendo feito nenhum erro irreparável, o que é muito importante. De um modo geral, os indicadores de desenvolvimento da Rússia nos últimos anos dão muitas razões para optimismo. Com efeito, o crescimento anual de sete por cento não é nada mau para começar.
Todavia, o problema da modernização da economia nacional representa hoje um dilema entre o crescimento e o desenvolvimento, ou mais exatamente entre o crescimento acelerado do PIB e as profundas transformações. Este dilema não é uma fantasia, pois verificou-se que o crescimento pode acontecer sem o desenvolvimento, ou seja, ser causado por fatores favoráveis passageiros como a desvalorização da moeda nacional, a melhoria da conjuntura internacional, a alta dos preços dos produtos tradicionais da pauta exportadora. Mas tal crescimento não poderá servir de base para a solução dos importantíssimos problemas econômicos e sociais se não se apoiar em mecanismos de desenvolvimento internos. O crescimento sem o desenvolvimento é sempre passageiro.
Pode-se entender o descontentamento do Presidente Vladimir Putin com a ausência de planos econômicos ambiciosos no governo anterior. Para sermos justos, temos que admitir que o governo fixou como um dos principais objetivos o crescimento anual do PIB na segunda metade da década em curso a uma taxa de seis por cento. Mas era só isso. O governo não olhava para além da década em curso nem tomava em conta as questões estratégicas da economia nacional que, na verdade, são numerosas.
A primeira é a seguinte: Valerá a pena proceder a uma segunda "volta" das privatizações gratuitas na Rússia? Boa parte do patrimônio pública, chamada, por hábito da época soviética, "propriedade de todo o povo", continua em poder do Estado. São os sectores da eletricidade, dos transportes ferroviários, dos transportes rodoviários, dos portos marítimos e fluviais, da indústria de guerra, das telecomunicações e correios, dos recursos hídricos e florestais e muitos outros. É óbvio que a sociedade não vai ganhar nada ou quase nada com uma segunda "volta" das privatizações, como não ganhou nada com a primeira.
Não sou contra as privatizações em princípio. Mas acho que uma sua segunda volta deverá ser adiada por vinte, ou melhor, dizendo, por trinta anos para que possamos preparar-nos para ela tão bem como, em tempos, os países europeus e a China.
A segunda questão refere-se à distribuição dos lucros e superlucros obtidos com a exploração dos recursos naturais. Os grandes empresários nacionais beneficiaram, durante 12 anos, de um regime de preferência máxima na distribuição de lucros entre o sector privado e a sociedade. Tais preferências não se concedem em nenhum outro país do mundo.
Um outro aspecto é a adesão da Rússia à Organização Mundial do Comércio (OMC). A necessidade da adesão não causa dúvidas. O que se pode contestar são as datas. A entrada da Rússia na OMC deverá ser cuidadosamente preparada e, portanto, acontecer dentro de dez ou quinze anos. De contrário, a Rússia correrá o risco de perder as suas indústrias aeronáutica, automobilística, alimentar, a sua agricultura e o seu sector bancário. Muito me apraz ver que a administração do Presidente Putin assume uma posição ponderada nesta questão.
O futuro da economia nacional está a ser construído hoje. Encaro as suas perspectivas com optimismo moderado. Mas o meu optimismo seria muito maior se o Estado tivesse revisto na prática a sua posição em relação às pequenas e médias empresas e aos sectores de altas tecnologias e, portanto, ao sector científico. O governo dos reformadores dos anos 90 estrangulou, de fato, as pequenas e médias empresas na Rússia, embora os pequenos e médios empresários sejam responsáveis por 45 por cento da economia nacional. Apaixonados pelas reformas, os reformadores quase destruíram o sector da ciência.
Tanto mais agradáveis são as palavras, ultimamente repetidas com freqüência: "A Rússia possui potencialidades colossais para efetuar descobertas em novas áreas ... Há condições favoráveis para avanços na área das altas tecnologias...". Mas as palavras de apoio não são seguidas, por enquanto, de apoio concreto.
RIA "Novosti"


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