30 de mar. de 2009

Receita para enfrentar a crise

Direto da CCAB

Participantes do Fórum Empresarial América do Sul-Países Árabes, em Doha, defenderam a ampliação das relações econômicas e comerciais como maneira das duas regiões enfrentarem a crise internacional.

Ministro Al Thani prega 'equilíbrio e justiça econômica'
Doha – A intensificação das relações econômicas e comerciais entre os países árabes e sul-americanos, como maneira de minimizar os efeitos da crise internacional nas duas regiões, foi defendida neste domingo (29) pela maioria dos palestrantes do primeiro dia do Fórum Empresarial América do Sul-Países Árabes, em Doha, no Catar. “Estamos aqui para cooperar, esse fórum serve para trocar informações e opiniões, e acredito que nas duas regiões existem idéias de como lidar com a situação”, disse, em entrevista, o ministro do Comércio e Negócios do Catar, Fahad Bin Jassim Al Thani.

Já na abertura do encontro, o ministro declarou que a cooperação entre árabes e sul-americanos deve resultar em medidas para facilitar o intercâmbio econômico, a troca de informações e o enfretamento da crise. “É preciso equilíbrio e justiça econômica para minimizar os efeitos da crise”, ressaltou. Como o epicentro da turbulência está nas economias centrais, o debate desta segunda-feira girou em torno do estímulo ao comércio e aos investimentos entre as nações emergentes das duas regiões...

O fórum antecede a 2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), que vai ocorrer no dia 31, também em Doha. De acordo com o chefe do Departamento da América Latina na Liga dos Estados Árabes, Ibrahim Mohieldin, o encontro de chefes de estado e de governo deverá também buscar novas soluções para o sistema financeiro internacional. “A agenda tem vários pontos importantes, como encontrar mais opções de intercâmbio e investimentos para ambas as partes”, afirmou.

Lupatini: cooperação é vital
Segundo o embaixador do Brasil em Doha, Ânuar Nahes, as recomendações dos participantes do fórum serão encaminhadas aos chefes de estado na cúpula. Nesse sentido, o secretário de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Edson Lupatini, destacou que a cooperação entre os dois blocos “é vital para combater a crise”.

“A robustez atingida por nossas economias as torna propícias para o comércio e os investimentos recíprocos. Não estamos totalmente imunes à crise, mas temos um sistema econômico sólido mais propício para enfrentar a turbulência”, disse Lupatini.

Ele defendeu a formulação de uma estratégia de cooperação econômica de longo prazo, com a intensificação dos canais de transporte entre as regiões e das linhas de financiamentos aos negócios. “Nesse cenário de recessão e redução do crédito, a expansão do comércio deve ser vontade dos governos e dos empresários”, acrescentou.
Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Na mesma linha, o presidente da União Geral das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes, o banqueiro libanês Adnan Kassar, defendeu o incentivo ao livre comércio como uma “idéia excelente”. “Os intercâmbios serão muito mais profícuos”, declarou.

Já o presidente da Federação dos Empresários Árabes, Hamdi Al Tabaa, disse que os empresários e autoridades das duas regiões devem ter idéias inovadoras para vencer a turbulência econômica internacional. “Com a cooperação entre as duas regiões podemos ultrapassar essa crise”, destacou.

Schahin: o momento é de oportunidades
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, ressaltou que as afinidades política, econômicas e culturais entre países árabes e sul-americanos podem fazer a diferença neste momento.

“Se nós atuarmos conjuntamente de maneira correta e apoiarmos uns aos outros, nós estaremos melhor preparados para enfrentar a crise e para ultrapassá-la em melhores condições”, disse. “Se nós olharmos para este momento como uma oportunidade, então podemos dizer que há um grande potencial aguardando para ser alavancado”, acrescentou.

Alaby listou ações para ampliar relações econômicas
Nesse sentido, o secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, listou uma série de medidas que podem ser tomadas para ampliar a integração econômica dos países envolvidos no fórum, como o aumento das opções de transporte de bens e pessoas, a assinatura de acordos para garantir investimentos e evitar a bitributação do imposto de renda sobre eles, uma maior troca de visitas de empresários e autoridades, a padronização de normas sobre os produtos comercializados e a cooperação técnica na agricultura, indústria e tecnologia.

Já o presidente da Associação dos Empresários Egípcios, Hussein Sabour, defendeu o aumento da publicidade dos governos, entidades e empresas entre os países dos dois blocos. “Se não fizermos publicidade, não seremos conhecidos”, afirmou. Nessa linha, segundo ele, sem promoção da imagem não há incentivo aos investimentos.

Casos de sucesso

Para ilustrar as oportunidades birregionais que já estão sendo exploradas, representantes das empresas Crystal Lagoons, do Chile, e das brasileiras Marcopolo, Randon e Vale do Rio Doce falaram sobre investimentos diretos realizados ou em andamento no Oriente Médio e Norte da África.

Sérgio Espeschit, da Vale, falou sobre a usina de pelotização de minério de ferro que a companhia começou a construir em Omã, junto com um terminal marítimo. A mineradora vai investir US$ 1,3 bilhão no projeto, que no início terá capacidade para produzir 9 milhões de toneladas de pelotas ao ano, podendo ser ampliada para 20 milhões.

Fernando Fischmann, da Crystal Lagoons, companhia que constrói praias e lagos artificiais de águas claras, falou sobre projetos no Egito, Marrocos, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita; Michel Rodrigues Mensh, da Marcopolo, contou sobre a fábrica de carrocerias para ônibus que a empresa vai inaugurar em breve no Egito em parceria com a egípcia Gabbour Auto; e Jascivan Carvalho, da Randon, deu detalhes sobre a linha de montagem de semi-reboques que a companhia tem na Argélia em joint-venture com um empresário local.

Esforço

O presidente da Associação dos Empresários do Catar, organizadora do fórum, Faisal Bin Qassem Al Thani, destacou o esforço dos envolvidos na promoção do evento, especialmente da Câmara Árabe Brasileira, que atuou na atração dos empresários sul-americanos.

Salim Schahin lembrou do encontro empresarial ocorrido paralelamente à 1ª Cúpula Aspa, em 2005, no Brasil, organizado pela Câmara, e ressaltou que, de lá para cá, o comércio entre o Brasil e os países árabes saiu de US$ 10,5 bilhões em 2005 para US$ 20,3 bilhões em 2008.

Ele destacou que boa parte desse crescimento foi influenciado pelas várias missões comerciais, feiras de negócios e seminários realizados no Brasil e nos países árabes neste período. “Eu tenho muito orgulho de dizer que a Câmara de Comércio Árabe Brasileira participou ativamente desse crescimento sustentado do comércio entre as duas regiões”, disse. “Quando há vontade política e bom ambiente de negócios nós cumprimos todas as condições para desenvolver nossas relações econômicas”, acrescentou, destacando o empenho do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na aproximação com os países árabes.


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