16 de mar. de 2009

Setor privado do Brasil intensifica lobby junto ao Congresso americano

Valor Econômico
Ricardo Balthazar e Raquel Landim - Nenhuma

Empresas brasileiras que desejam aumentar sua participação no mercado americano identificaram na relação com o Congresso dos Estados Unidos um fator crítico para o futuro dos seus negócios e buscam meios eficazes de promover seus interesses. Na semana passada, nos dias que antecederam ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente dos EUA, Barack Obama, representantes das usinas brasileiras de açúcar e álcool visitaram gabinetes de uma dúzia de deputados e senadores, além de fazer contato com grupos ambientalistas e funcionários do governo.

A Embraer, que tem nos EUA o principal mercado para seus aviões e alguns dos seus maiores fornecedores, declarou mais de US$ 1,4 milhão em despesas com escritórios de lobby em Washington nos últimos cinco anos. Eles acompanham projetos de interesse da empresa no Congresso e abrem portas no governo para os seus executivos.

Representantes de associações empresariais como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Câmara Americana de Comércio (Amcham) passaram a visitar o Congresso com maior assiduidade nos últimos três anos. A Fiesp encomendou a um escritório de Washington um amplo estudo para entender melhor o que os políticos americanos pensam do Brasil. Buscar aproximação com o Congresso é vital para qualquer empresa interessada em fazer negócios nos EUA, diz o presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-EUA, Henrique Rzezinski, que dirigiu a área de relações externas da Embraer por dez anos.

Questões centrais no relacionamento do Brasil com os EUA passam pelo Congresso. No sistema político americano, é o Legislativo que determina os rumos da política comercial executada pela Casa Branca. Os negociadores americanos na Organização Mundial do Comércio (OMC) não tem condições de dar um passo sem consultar antes os líderes do Congresso.

Há poucas semanas, o presidente Obama anunciou que gostaria de reduzir os generosos subsídios agrícolas distribuídos pelo governo, um foco permanente de tensão com o Brasil e outros exportadores agrícolas. Sua proposta ainda não chegou ao Congresso, mas os líderes da comissão que vai discutir o assunto já avisaram que não há chance de a ideia ser aprovada.

Muitas empresas brasileiras começaram a se preocupar com o Congresso dos EUA em 2006, quando o Brasil correu o risco de ser excluído do Sistema Geral de Preferências (SGP), um programa que permite a entrada no mercado americano sem o pagamento de tarifas. A Fiesp e a Amcham contrataram lobistas profissionais e se aliaram com associações da indústria americana para manter as vantagens do programa.

Vários congressistas concordaram em manter o Brasil no SGP quando perceberam que isso era necessário para assegurar o acesso de multinacionais americanas a seus fornecedores no Brasil. Mas para prorrogar os benefícios do programa foi preciso ceder ao senador republicano Charles Grassley, que queria incluir no pacote uma cláusula para renovar as tarifas cobradas pelos EUA nas importações de etanol.

Uma coisa nada tinha a ver com a outra, mas o episódio serviu para os empresários brasileiros como uma lição sobre o funcionamento do Congresso. Foi ali que começamos a entender melhor o jogo político nos EUA, diz o diretor do departamento de energia da Fiesp, Carlos Cavalcanti. Em 2008, quando o SGP foi renovado mais uma vez no Congresso, oito missões empresariais brasileiras foram a Washington tratar do assunto.

Identificar potenciais aliados virou uma questão crucial para alguns setores. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) abriu há um ano e meio um escritório em Washington e tem procurado se aproximar de congressistas de Estados como a Califórnia e a Flórida, que estão longe das usinas americanas de etanol e têm interesse em eliminar as tarifas cobradas do álcool do Brasil.

Não é fácil chamar a atenção dos políticos americanos. No ano passado, um grupo de 31 deputados se juntou para reanimar o Brazil Caucus, uma frente parlamentar articulada pela Embaixada do Brasil em Washington há alguns anos. O grupo não se reuniu mais depois do último encontro e três dos seus membros deixaram o Congresso desde então. A maioria dos seus integrantes nunca apoiou uma iniciativa de interesse do Brasil. Cinco propostas para eliminar as tarifas do etanol foram apresentadas no ano passado nas duas casas do Congresso. Apenas três membros do grupo apoiaram esses projetos.

Há alguns anos, a embaixada brasileira e algumas empresas com negócios nos EUA, como a Embraer e a siderúrgica Gerdau, se uniram para montar um escritório de representação em Washington, o Brazil Information Center (BIC). É uma operação modesta, com cinco funcionários brasileiros que monitoram as atividades do Congresso e produzem relatórios. Mas a embaixada se afastou recentemente do grupo, que agora é sustentado principalmente por contribuições do setor privado.

Na semana passada, o governo brasileiro deu um sinal de desinteresse pelo que acontece nos corredores do Congresso. Em fevereiro, a Comissão de Relações Exteriores do Senado americano convidou o presidente Lula para visitar o Congresso. Na véspera de chegar para seu encontro com Obama, Lula avisou que não teria tempo para visitar os senadores. Ele recusou outros três convites semelhantes nos últimos sete anos.

A movimentação do setor empresarial brasileiro ainda é bastante incipiente, mas ele tem sido muito mais agressivo do que o governo na defesa dos seus interesses no Congresso, diz um assessor do Senado americano que acompanha as relações Brasil-EUA.


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