16 de mar. de 2009

Encontro Lula-Obama reduz chances de Doha

Valor Econômico

Ricardo Balthazar - Nenhuma

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no primeiro encontro entre os dois: discursos falam em ação conjunta para o G-20, mas formato da cooperação não ficou claro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, indicaram no fim de semana que consideram bastante remotas as possibilidades de uma retomada das negociações da Rodada Doha de liberalização comercial enquanto o mundo estiver sofrendo os efeitos mais severos da crise econômica internacional.

A falta de entusiasmo com que os dois se expressaram sobre o assunto após a reunião que tiveram sábado na Casa Branca tende a esfriar ainda mais o ânimo dos negociadores da Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem se esforçado para reativar as discussões desde que elas foram suspensas, em julho do ano passado.

Acho que na crise econômica é mais difícil a gente concluir o acordo, disse Lula numa entrevista ao lado de Obama, indo em direção contrária à dos pronunciamentos que fizera nos dias anteriores ao encontro. Há duas semanas, numa entrevista ao The Wall Street Journal, o presidente definira o momento atual como o mais oportuno para a gente discutir a rodada.

Tanto Lula como Obama disseram continuar interessados em um acordo, mas ambos fizeram questão de enfatizar os obstáculos que a rodada enfrenta. Pode ser difícil para nós finalizar vários acordos comerciais no meio de uma crise econômica como esta, disse Obama, referindo-se a Doha e três tratados bilaterais assinados pelo ex-presidente George Bush que o Congresso não aprovou até agora.

Num relatório recente para o Congresso, o governo Obama acusou o Brasil e outros países em desenvolvimento de impedir o avanço da Rodada Doha ao relutar em abrir mais seus mercados a produtos importados. O Brasil e outros países emergentes criticam os EUA por se recusar a promover cortes mais substanciais nos subsídios recebidos pelos fazendeiros americanos.

Lula e Obama estiveram juntos por duas horas no sábado, no primeiro contato pessoal dos dois presidentes. Eles disseram que pretendem trabalhar juntos na busca de soluções para a crise e propostas para a próxima reunião de líderes do G-20, o grupo de países ricos e potências emergentes que tem um encontro marcado para abril, em Londres.

Os dois dirigentes não deixaram claro o formato que essa cooperação poderá ter. Lula disse que Obama sugeriu a criação de um grupo de trabalho para apresentação de uma proposta conjunta dos dois governos. Obama disse apenas que haverá reuniões entre ministros dos dois lados para coordenar nossas atividades para fortalecer o crescimento econômico global.

O encontro de sábado também serviu para deixar claro que os EUA não pensam em abrir tão cedo o mercado americano para o etanol produzido no Brasil, uma reivindicação que Lula e os usineiros brasileiros tem feito com insistência. Na entrevista ao lado de Lula, Obama admitiu que as barreiras tarifárias impostas ao álcool importado geram tensão entre os dois países, mas disse que o problema só será solucionado com o tempo.

Num encontro na sexta-feira em Washington, o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, disse a representantes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) que não há a menor possibilidade de eliminar as tarifas do etanol no curto prazo. A legislação em vigor assegura sua manutenção até o fim de 2010 e sua retirada agora poderia aumentar os problemas gerados pela crise econômica para a indústria americana de etanol.

Mas Lula indicou no fim de semana que está interessado em abrir uma nova frente de cooperação entre os dois países nessa área, explorando oportunidades que poderão surgir para usinas de álcool e outras indústrias brasileiras se Obama levar mesmo para frente o audacioso programa de combate às mudanças climáticas que está começando a ser discutido em Washington.

O plano de Obama inclui um sistema de controle dos gases que contribuem para o aquecimento global e a criação de um mercado de créditos de carbono que poderá movimentar centenas de bilhões de dólares por ano. Os usineiros acreditam que créditos acumulados na produção de álcool no Brasil poderão ser negociados nesse mercado, se o país tiver como influir no desenho da política americana.

Numa entrevista na Embaixada do Brasil em Washington após o encontro com Obama, Lula disse que a associação de biocombustíveis como o etanol aos esforços para combater as mudanças climáticas tornou-se a área mais promissora para o aprofundamento das relações do Brasil com os EUA. Estou convencido de que vamos dar passos extremamente importantes, disse. Essa coisa está maturada.


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