6 de abr. de 2009

Indústria de bolsas artesanais exporta para 10 países

Uma das vencedoras do prêmio do Sebrae, 1001 Retalhos começou na lavanderia de uma casa em Atibaia

São Paulo - Na ‘Le Monde em Couleurs’, em Paris, ou na japonesa Mitsukoshi, a mais antiga loja de departamentos do mundo, localizada em Tóquio, é possível um brasileiro desavisado comprar uma bolsa da 1001 Retalhos, uma pequena indústria brasileira de artesanato localizada em Atibaia, a 60 km de São Paulo. No salão principal da loja japonesa, as bolsas brasileiras estão ao lado de marcas como Marc Jacobs (estilista da Louis Vuitton), Kate Spade, Jamin Puech, Furla, entre outros...

No Brasil, uma bolsa da 1001 Retalhos é encontrada, em média, a R$ 600,00 em butiques sofisticadas. Formalizada há quatro anos, a empresa produz cerca de mil bolsas por mês, fatura perto de R$ 1 milhão por ano, emprega 31 funcionários, possui 200 clientes ativos e ocupa totalmente um galpão de 400 metros quadrados. Já exporta para 10 países.

O sucesso, segundo uma das proprietárias, Ana Paula Felippe, está na preocupação com o meio ambiente, na responsabilidade social, na qualidade do produto e na paixão pelo Brasil. “Nosso trabalho busca criar uma moda que revele o Brasil, suas riquezas espalhadas por todo o território, a flora e a fauna da matas, serras e campos, as mulheres e o colorido brasileiro.

Eleita pelo Top 100 de Artesanato Brasileiro, prêmio promovido pelo Sebrae, como uma das 100 melhores unidades produtivas de todo o País em 2008, a marca lança por ano duas coleções. Atualmente há quatro temas ativos: Árvores do Brasil, Mulheres do Brasil, Aquarela e Rosas. Os produtos são confeccionados em lona, onde é aplicado o patchwork.

“Usamos apenas tecidos puros, como seda, linho. A aplicação é feita em diversas técnicas, como bordado, fuxico, crochê. Nosso objetivo é resgatar técnicas que estão se perdendo. Além disso, trabalhamos com a comunidade pobre no entorno da fábrica”.

Na coleção Árvores do Brasil, existe a preocupação também de retratar as árvores brasileiras em extinção, como o Pau Rosa, o Jacarandá, o Jequitibá e o Pau Brasil. A bolsas são vendidas com uma semente da árvore. “Só não conseguimos o Pau Rosa porque realmente ele está praticamente em extinção”, diz a empresária.

Do escargot ao retalho

A trajetória da 1001 Retalhos começou há 20 anos, quando a mãe de Ana Paula, a professora de educação física Evani Ribeiro, decidiu se aposentar aos 44 anos. “Ela sempre foi uma mulher super ativa. Decidiu não ficar parada e começou a produzir escargots no quintal de casa”, conta Ana Paula

O negócio não foi em frente. Os restaurantes preferiam os animais franceses, que eram menores. A professora decidiu então produzir mel e criou um pequeno apiário. O empreendimento durou um ano, segundo Ana Paula Felippe. Evani partiu então para os biscoitos caseiros. “Eram deliciosos e muito bem acabados. Como eu cursava Letras, na USP, em São Paulo, e fazia italiano e inglês, passei a vender os biscoitos”, diz.

Foram anos, segundo a empresária, de cestinha nos ônibus de São Paulo. Ana Paula se formou e trabalhou durante 15 anos em grandes editoras. Enquanto isso, Evani decidiu largar a fabricação de biscoitos. “Havia uma confusão enorme entre as contas da empresa e de casa. Minha mãe usava a farinha, a manteiga, o açúcar que comprava para casa também para fazer os biscoitos. Ela não tinha idéia de quanto ganhava e quanto gastava”.

Evani ganhou então de uma ex-aluna um livro de patchwork em japonês. “Ela conta que começou a aprender o patchwork em braile, já que não entendia uma linha do que estava escrito em japonês”.

Começou produzindo uma colcha de retalhos. Depois, foram pequenas peças, vendidas para seus amigos e familiares. À lavanderia de sua casa chegou a primeira costureira, depois mais uma e, em seguida, outra.

“Na quinta costureira, meu pai teve uma crise. Todas tomavam café-da-manhã, almoçavam e lanchavam na mesa da cozinha de casa. Meu pai deu um ultimato e minha mãe achou um pequeno ateliê atrás do escritório de um candidato a prefeito”, diz a filha Ana Paula.

Com o movimento do escritório eleitoral, Evani fez uma ótima freguesia. O patchwork era feito com sobras de calça jeans de instituições de caridade, com sobras de roupas do brechó do filho e de tecidos manchados que ninguém queria na rua 25 de março.

A empresa foi crescendo na informalidade. Em 2002, na licença-maternidade de seu primeiro filho, Ana Paula descobriu como funcionava o trabalho da mãe. Conseguiu em quatro meses fazer um inventário. Em 2003, Ana Paula estava grávida de novo, mas foi demitida logo que o bebê nasceu. Coincidentemente, o marido, jornalista, também estava desempregado.

Pegaram os filhos e foram para Atibaia. Ela ajudaria a tocar a empresa. Mas, antes, porém, Ana Paula tinha uma exigência: que a mãe se formalizasse e criasse uma empresa. Em 2004, nascia a 1001 Retalhos.

Antes mesmo de a primeira nota fiscal estar pronta, a empresa já tinha o primeiro pedido de exportação: mil peças para o México. “Precisei a aprender a exportar, a fazer preço em dólar em quatro meses. Fui atrás do Sebrae, do Banco do Brasil. Contratei um consultor”, lembra.

A partir de então, a 1001 Retalhos não parou mais de crescer e Ana Paula Felippe fez todos os cursos de gestão e marketing oferecidos pelo Sebrae. “Essa capacitação foi fundamental porque eu nunca fiz um preço de produto errado. Não tomo nenhuma decisão aleatória”.

O marido e o pai de Ana Paula se aliaram ao negócio. A empresa se especializou nas bolsas e hoje não compra mais retalhos da 25 de março ou de brechós. “Trabalhamos com grandes empresas e compramos bobinas de tecido que depois são transformadas em retalhos”, afirma. O faturamento em 2005 era de R$ 3.000 por mês. Hoje faturam mais de R$ 80 mil/mês.

Uma coisa a empresária tem orgulho de contar: nenhuma agulha, tesoura ou outro material são importados. “Temos por missão gerar emprego e renda no Brasil”. A fundadora é responsável por toda a produção da empresa. Ainda tem tempo para ensinar a técnica do patchwork em comunidades carentes e no Centro de Ressocialização de Presos de Atibaia, onde existe um grupo de 10 presos que colaboram fazendo pingentes, alças, chaveiros.

Serviço:
Agência Sebrae de Notícias – (61) 3348-7138
1001 Retalhos – (11) 4411-2425


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