17 de mar. de 2009

O fiel da balança

Duas notícias chamaram minha atenção no dia hoje. Apenas para constar, estas e muitas outras, relacionadas ao Comércio Exterior nacional e internacional, estão divulgadas no meu Blog do Barzan (http://blogdobarzan.blogspot.com/). Pronto já fiz meu comercial, agora vamos ao que interessa. Posso afirmar, que estas duas notícias, representam alguns pontos de minhas impressões, sobre o que vem acontecendo no mercado nacional, agredido por importações, em particular, aquelas que realmente ferem os padrões éticos comerciais estabelecidos dentro não só do Brasil, mas, em diversos outros países. A primeira notícia, divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dá conta da seguinte matéria: Gecex aprova antidumping provisório sobre importação de fios de viscose (RESOLUÇÃO No – 12, DE 13 DE MARÇO DE 2009). O processo que gerou esta medida antidumping considerou “apresentados elementos suficientes que indicam a prática de dumping nas exportações para o Brasil da Áustria, Indonésia, República Popular da China, Tailândia e Taipé Chinês do produto objeto desta Circular, e de dano à indústria doméstica resultante de tal prática” (trecho da CIRCULAR No 18, DE 18 DE MARÇO DE 2008 da SECEX). O conteúdo da circular é mais abrangente, mas, citarei apenas alguns cortes de trechos que julguei relevantes: “Do exposto, concluiu-se pela existência de indícios suficientes de ocorrência de dano à indústria doméstica no período sob análise, tendo em vista que a indústria doméstica não acompanhou o crescimento do mercado brasileiro de fibras de viscose, que foi absorvido pelo produto importado objeto de dumping. Houve, também, redução do preço médio e diminuição na receita líquida da indústria doméstica ao longo do período considerado. Essa situação levou a um quadro de queda da lucratividade da indústria doméstica ao longo do período considerado..a participação das vendas da indústria doméstica no mercado doméstico diminuiu 18,5 pontos percentuais...Houve diminuição do faturamento líquido obtido com as vendas ao mercado interno...o lucro operacional da indústria doméstica decresceu 80% ao longo do período considerado.” O restante da circular segue o mesmo tom. Agora, qual a moral desta história toda resumida em uma única palavra? Resultado: desemprego! Sejamos sinceros, é gostoso ler uma notícia desta, não? Saber que uma empresa de grande porte, teve sua participação no mercado reduzida em 18,5% e que seu lucro operacional decresceu em 80% como resultado de uma prática comercial nada convencional. O mais engraçado desta história toda, é que existem pessoas que se regozijam com tais fatos. Afinal, são estas pessoas que estão ganhando exatamente aonde outros estão perdendo e, perdendo porque não jogam com as mesmas regras sujas. Entretanto, o mais engraçado, é que estas mesmas pessoas, parecem olhar apenas o próprio umbigo quando um fato deste acontece. Quando uma pessoa está inserida no mercado de trabalho, que dizer, está recebendo um salário, ela é considerada um consumidor ativo. Quando esta mesma pessoa perde o seu emprego, ou seja, deixa de receber qualquer tipo de provento, ela também é considerada um consumidor, só que, inativo. Acredito que não seja necessária a explicação das diferenças dos termos. Muitas vezes, quando ouvimos falar que determinada empresa despediu determinada quantidade de funcionários, podemos tomar duas posições, ou nos sentimos afetados, caso estejamos entre os demitidos ou, não nos importamos muito, acreditando que a “onda” não nos afetará. Não vou usar o termo “marolinha” porque já cansei de ouví-lo, e mesmo porque, não sou dado a amplificar mentiras. Entretanto, todo consumidor ativo, não é estático, ele é dinâmico e, à sua volta, orbitam um sem números de produtos e serviços com potencial de aquisição ou rejeição. Quando este consumidor adquire um veículo, por exemplo, ele dispara um gatilho que movimenta uma enorme quantidade de engrenagens que nasce no vendedor da concessionária até o rapaz que lava o carro, passando pelo corretor de seguro, pela montadora, pelos fornecedores de componentes, pelas lojas de acessórios (som), pelo fabricante de pneus, pelo fabricante de fluídos, pelo fabricante de lubrificantes, de parafusos e assim sucessivamente. A cadeia é enorme. Por sua vez, cada uma destas engrenagens, também é geradora de uma quantidade de consumidores ativos. Os funcionários da empresa que fornece os pneus, também querem um automóvel, um computador, um celular, uma roupa nova, um calçado, um plano de saúde, uma viagem de férias enfim, ele está inserido no mercado de consumo, porque a máquina está funcionando, as engrenagens estão girando. Todas elas, diretamente conectadas a um grande motor, cujo combustível é a economia. Quanto mais ela cresce, mais combustível é injetado, mais rápido ela gira e, em muitos casos, é necessária a colocação de novas engrenagens dentro da máquina. O universo do mercado de consumo é gigantesco. Entretanto, quando a quantidade de combustível diminui, diminuem também as rotações e, pouco a pouco, algumas engrenagens vão perdendo alguns dentes. Quando isso acontece, o freio-motor da máquina é acionado e toda a cadeia vai diminuindo o seu ritmo, até parar. Quando isso acontece, a onda de demissões é inevitável. Afinal, vivemos em um mundo capitalista, onde esta história de socialismo e comunismo, são meras peças inúteis de um museu com poucos visitantes. As compras começam a ser postergadas. Aquele novo celular fica para o próximo mês. O carro novo, quem sabe quando eu voltar a trabalhar. O plano de saúde, podemos cancelar. A prestação da escola, acho que teremos que colocar as crianças em escola pública. Quem é que nunca viveu ou, pelo menos não sabe de alguém que viveu ou está vivendo está situação? Só mesmo aqueles que ainda acham que o Brasil é uma ilha e que aqui, apenas as ondinhas chegarão. Até mesmo aqueles produtos que foram importados de maneira não convencional, acabam ficando mais tempo na prateleira. Engraçado, não? Os causadores do problema, acabam provando do próprio remédio. É aquela velha história dos que estão no barco furado, mas, sentam-se na outra ponta e dizem: “ainda bem que o buraco é no outro lado”. Não estou atirando toda a culpa desta situação nas costas dos “importabandistas”, mesmo porque, eles não estão com toda esta força. Mas, ainda causam prejuízos na economia. Por isso, ações como esta, devem ser realizadas com mais frequência, não apenas por empresas de grande porte, mas, por todas aquelas que se sentirem, de alguma forma, lesadas. A segunda notícia, saindo fresquinha da Agência Senado, é a seguinte: “Uma manobra regimental impediu hoje (17) a votação, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, do projeto que isenta de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os produtos escolares e estabelece alíquota zero de PIS e COFINS sobre a importação e as receitas decorrentes da venda desses produtos.” Aqui o assunto é um pouco mais controverso. De um lado, uma empresa luta para coibir a prática do dumping de determinado produto importado, de outro alguns políticos, tentam “liberar geral”, usando um termo mais chulo, muitas vezes apropriado à classe. “O projeto isenta de IPI, PIS e Cofins produtos como cola, borracha de apagar, pasta, mochila, agenda, caderno, pincel, caneta esferográfica e lápis.” Será que o Brasil não produz estes itens? Será que precisamos importar todos estes itens e, o que é pior, isentá-los destes impostos? E a justificativa é ainda mais gritante: “Esse projeto alcança as famílias mais pobres. Ajuda a combater a evasão escolar. Lamentavelmente boicotaram o quórum”, reclamou o autor do projeto, José Agripino Maia (DEM-RN). A educação das famílias mais pobres, não é de responsabilidade do governo? Por que o governo não desenvolve uma parceria com fabricantes locais para fornecer estes produtos? A resposta só pode ser uma: a quantidade de empregos, que o comércio destes itens gera. Por que o tratamento diferenciado, dando-se preferência ao emprego em outros países? Existe uma outra razão: o lobby de algum setor! Falta mesmo uma política muito mais séria que coordene as ações de Comércio Exterior. Quanto ao fechamento de empresas de exportação, as razões são várias: a crise, a falta de um planejamento básico, o não comprometimento a longo prazo com os clientes no exterior, a falta de linhas de crédito acessíveis aos pequenos e médios, a falta de profissionalismo de muitos que atuam na área e, o aumento da concorrência provocada pelo processo de “chinalização” da economia global. Existem outras, mas, estas são mais que suficientes. Não existe uma “receita de bolo” para resolver a situação de imediato. O cenário é claro, o mundo não está comprando ou, está comprando apenas o necessário. Por isso, é extremamente importante, que os exportadores brasileiros, potencializem suas ações no exterior, ajustem os seus custos no sentido de não perderem participação de mercado, reposicionem a atuação dos representantes, estreitem os laços com seus clientes, fomentem ações de parceria, avaliem as ações da APEX. O importante neste momento, talvez nem seja ampliar o território, mas, não perder o seu lugar onde já atua. Porque a fila é grande e se perder o lugar, vai ter que voltar para o fim dela.



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