4 de mar. de 2009

Afeganistão busca aprendizado para diversificar agricultura

Embrapa Cerrados
O governo do Afeganistão está buscando, no Brasil, alternativas para combater a produção de papoula opiácea, utilizada para a produção de ópio
O ministro do desenvolvimento e reabilitação rural Mohammad Ehsan Zia conheceu, segunda-feira (02/03), tecnologias da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF) para intensificar o uso da terra com cultivo de frutas consorciado com inhame, batata doce, abóbora e outras alternativas de baixo custo viáveis para pequenos produtores.

Para Zia, mestre em estudos de recuperação pós-guerra pela Universidade de York, “o conhecimento da Embrapa” em agricultura tropical pode ajudar o Afeganistão “a elevar o Produto Interno Bruto, diversificar a produção agrícola e aumentar a produtividade”. O ministro salienta que a agricultura responde por 60% do PIB afegão, estimado em 26 bilhões de dólares em 2008. O país, que passa por período de recuperação econômica desde a queda do regime Talibã em 2001, teve crescimento de 11% em 2008.

A produção agrícola, no entanto, continua baseada em parte no cultivo da papoula, utilizada para a fabricação de ópio, droga ilícita. Segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), produtores do Afeganistão, maior produtor mundial de ópio, cultivam papoula opiácea em 157 mil hectares. A produção já foi maior. Em 2007, eram destinados 193 mil hectares para a papoula. A área atual, principalmente a província de Hilmand, no sul do país, produz quase 8 mil toneladas de ópio por ano.

Ainda segundo o último relatório da UNODC, há uma tendência dos produtores de ópio migrarem para o cultivo do trigo. O ministro Zia, que na última semana fez parte da comitiva que discutiu, em Washington, alternativas para o desenvolvimento do país com a secretária de Estado americana Hillary Clinton, acredita que a agricultura tem grande importância para incrementar a renda dos produtores de modo legal.

Agricultura tem valor social

Em agosto de 2006, data de assinatura do primeiro acordo de cooperação técnica Brasil - Afeganistão, o embaixador afegão em Washington Said Tayeb Jawad destacou durante visita à Embrapa Cerrados que “a agricultura tem, além do valor econômico, uma importância social muito grande”. Jawad incentivou a vinda do ministro à Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Desta vez, o embaixador foi representado pelo conselheiro de política externa Asharf Haidari. O assessor do ministério Arsalan Ghalieh também participou do encontro com os pesquisadores Cynthia Toledo Machado (sistemas agroecológicos), Marília Santos Silva, articuladora internacional, e Tadeu Graciolli Guimarães (fruticultura).

A comitiva afegã obteve informações sobre processamento das raízes de mandioca, um dos estudos que estão sendo fortalecidos na Embrapa Cerrados, e conheceu no campo o cultivo consorciado de vinte e três variedades de banana com inhame. O plantio de frutas em conjunto com inhame, abóbora ou batata doce, por exemplo, intensifica o uso da terra e diversifica a produção dos pequenos agricultores.

Cultivo de frutas consorciado com inhame e outros produtos

O pesquisador Tadeu Graciolli apresentou, ainda, o viveiro de mudas da Unidade da Embrapa e mostrou uma nova área experimental com acerola, graviola e espécies frutíferas do Cerrado como o araticum plantadas em linhas intercaladas com o cultivo de inhame, abóbora, feijão, batata doce e outras culturas úteis para diversificar a produção. Graciolli lembrou que o Cerrado tem 42 mil hectares de área cultivada com frutas, o que representa apenas 2% do total cultivado no Brasil. “Há grande potencial de crescimento”, cita, destacando como aspectos favoráveis a proximidade do Distrito Federal dos grandes centros de consumo, poder aquisitivo da população, condições de solo e clima, entre outros.

O Afeganistão tem 647,500 km2, dos quais 12% são terras aráveis. Para a comitiva, o clima, predominantemente árido e semi-árido, não impede a inserção de novos produtos na agricultura local. O país produz açafrão, amêndoas, trigo, arroz, batata, cevada e frutas como pêssego e pêra. Além da visita à Embrapa Cerrados, as autoridades afegãs tiveram encontros nos Ministérios de Desenvolvimento Agrário; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

0 comments:

Postar um comentário

Resultado da pesquisa