19 de mar. de 2009

Açaí - Possibilidades comerciais e industriais

O gênero Euterpe, congrega cerca de 28 espécies, distribuídas das Antilhas e América Central até as regiões florestais amazônicas do Peru.

Para nós, brasileiros, três são as espécies mais importantes desse gênero: a oleracea Mart, que ocorre, principalmente, em toda a extensão do estuário amazônico, do Maranhão ao Amapá e no Pará, acompanhando o vale do Baixo-Amazonas, estabelecendo-se às Guianas, Venezuela e Trinidad; a precatória Mart, nas regiões central e ocidental da Amazônia, indo até os contrafortes dos Andes, e a edulis Mart, antes abundante nas florestas Atlântica e do centro-sul do país, hoje seriamente ameaçada pelo desordenamento verificado na exploração de seu palmito.

Na Amazônia, determinadas zonas já estão caracterizadas pela produção em larga escala de "vinho" e palmito de açaí, visando ao abastecimento dos mercados e indústrias da região e mesmo do país. É uma das poucas palmeiras que apresenta abundante perfilhação, formando o que vulgarmente chama-se "touceira".

Em virtude dessa brotação, aliada a alta rusticidade e reduzidas necessidades de cuidados operacionais, torna-se planta de importância capital para o desenvolvimento de uma fruticultura arbórea, fornecedora de frutos para a alimentação e matéria-prima para a indústria de palmito e papel, visando ao mesmo tempo o aproveitamento permanente das áreas de várzea e igapó.

Apresenta-se como espécie de elevada importância exploratória, motivada por sua constante brotação, aliada às altas possibilidades de um integral aproveitamento de suas partes, dentre as quais se destacam:

O fruto: pelo despolpamento obtém-se o tradicional "vinho do açaí", bebida de grande aceitação e bastante difundida entre as camadas populares, considerado um dos alimentos básicos da região;

O caroço: (endocarpo e amêndoa), após decomposição é largamente empregado como matéria orgânica, sendo considerado ótimo adubo para o cultivo de hortaliças e plantas ornamentais, sendo empregado também na confecção de artesanatos.

O gomo terminal: de onde é extraído o palmito para alimentação humana e ração animal.

Na sinonímia popular é também conhecido popularmente pelos nomes: açaizeiro, açaí-do-pará, juçara, pinot, açaí-do-baixo amazonas e pina palm. Apresenta características marcantes que o diferencia das demais palmeiras existentes na região.

As raízes do açaizeiro são fasciculadas, em forma de cabeleira, com um diâmetro de 1,0cm, emergindo do estirpe a uma altura de 30 a 40cm do solo.

O tronco ou estirpe, em estado nativo, é cilíndrico, anelado e duro, com altura média de 14 metros, sem ramificações e com diâmetro de 10 a 15cm. Outra parte da palmeira bastante característica é o capitel, formado pelo conjunto médio de 10 folhas.

Em estado adulto as folhas alcançam até 2 metros de comprimento, seccionadas em 70 a 80 pares de pinas, sem pilosidade, lisas e de coloração verde clara.

Abaixo das bainhas das folhas estão as espadas ou espatas, que são formações de consistência coriácea que envolvem as flores antes do seu desabrochamento. Após a maturação rompe-se a espata, que se desprende e cai, deixando as flores masculinas e femininas, em número aproximado de 37.000 e 8.000 respectivamente, no cacho aberto em forma de vassoura.

Após a fecundação, as flores femininas transformam-se em frutos, que continuam no cacho até a maturação total. Quando imaturos, os frutos apresentam coloração esverdeada e, a medida que vão amadurecendo, mudam paulatinamente a coloração, até que na plenitude da maturidade apresentem uma coloração violácea, quase negra.

O Pará é o principal estado produtor, seguido do Amapá, e, em ambos, as maiores extensões de açaizais estão localizadas na região estuarina do rio Amazonas, com destaque para as ilhas e baixos curso dos rios daquela região. A planta é espontânea e abundantíssima na parte oriental da Amazônia, do litoral, do litoral Atlântico até Óbidos, ao Norte, e até os arredores de Parintins, ao sul do grande rio. Na Pré-Amazônia, o maior produtor é o Maranhão, onde é mais conhecida por juçara. É vegetação predominante ao longo dos igarapés, terrenos de baixada e áreas cuja umidade é permanente. O açaizeiro pode ser encontrado, algumas vezes, em formações quase puras, ocupando, ao lado do Buriti (Mauritia flexuosa), o primeiro lugar na fisionomia da paisagem.

Em 1992, último ano com dados disponíveis sobre produção para a Região, o Pará era responsável por 94% da produção nacional de frutos de açaí, seguido pelo Maranhão (3,05%), Amapá (2,26%), Acre (0,29) e Rondônia (0,07%). E importante considerar que grande parte da produção amapaense é computada como sendo do Pará. Em níveis regional e nacional, a produção do Amazonas é pouco significativa, de modo particular a extrativista, onde predomina a Euterpe precatoria, com destaque para a região do município de Manaquiri. No entanto, há que considerar-se que aquele estado não tem entrado nos levantamentos estatísticos oficiais realizados sobre o açaí. Há diferenças a considerar entre as espécies oleracea e a precatoria, como o tipo biológico (a primeira é multicaule; a Segunda, não), a época da safra, densidade e produtividade por indivíduo e por área, apesar de os produtos comercializados, frutos e palmito, serem muito parecidos e receberem a mesma denominação. Dados comparativos das duas espécies denotam um potencial de produção muito superior para a espécie oleracea. Isso, no entanto, não deve ser causa de menor interesse econômico pela precatoria, que se presta bem ao cultivo em terra-firme.

No grande estuário encontram-se concentrações médias de 200 touceiras por hectare. Uma touceira possui em torno de 20 palmeiras, das quais pelo menos 3 em produção, largando cada uma de 6 a 8 cachos anualmente (em duas safras), com 2,5 kg cada, o que representa de 15 a 20 quilos de frutos por palmeira, num total aproximado de 12 toneladas de frutos/ha/ano. A produtividade da espécie, para palmito, não é menos generosa. Considerando-se o descarte médio de uma palmeira/touceira/ano, que num sistema de manejo seria aquela que já apresentaria baixa produtividade para frutos, um hectare pode produzir 200 quilos de palmito/ano, num sistema integrado de manejo para exploração do fruto e do palmito.

2 - Possibilidades comerciais e industriais

O açaizeiro é uma espécie de grande importância sócio-econômica para a Amazônia, devido ao seu enorme potencial de aproveitamento integral de matéria-prima. Atualmente o principal produto é o "vinho" extraído de sua polpa. As semente são utilizadas para artesanato e adubo orgânico. A planta fornece ainda um ótimo palmito e suas folhas são muito utilizadas para cobertura de casas na região amazônica. A primeira, e das mais rentáveis possibilidades comerciais do açaí, no entanto, é a produção e comercialização de seu fruto "in natura". Através do cultivo, ou do manejo adequado de açaizais nativos, a produção de frutos para o mercado local é uma atividade de baixo custo e de excelente rentabilidade econômica.

O abate das palmeiras para extração do palmito, como é feito nos moldes atuais, acarreta um grande desperdício do estirpe do açaizeiro que, não sendo ainda aproveitado é simplesmente abandonado nas áreas de ocorrência, perdendo-se grande quantidade de material que poderia ser utilizado na indústria de papel, dada a expressividade de seu volume e conhecimento tecnológico já existente sobre a potencialidade da espécie como matéria-prima na fabricação de vários tipos de papel.

A finalidade tradicional atribuída ao açaizeiro, unicamente como fonte para extração do "vinho" de açaí, está hoje superada, em face do interesse despertado pelos recentes estudos que demonstraram excelentes oportunidades para o seu aproveitamento integral nas indústrias alimentícias, de celulose e papel.

Pela concentração significativa de palmeiras existentes na região e pela relativa facilidade de extração, a espécie permite à indústria instalada na área, um abastecimento seguro e fácil, a um custo relativamente baixo de matéria-prima e de transporte. Ao mesmo tempo, possibilita o aproveitamento permanente das áreas de várzea e igapó, exploradas anualmente com o cultivo do arroz e cana-de-açúcar, evitando-se, desta maneira, seu abandono e transformação em capoeira desprovida de espécies valorizadas, fato bastante comum em nossa agricultura itinerante.

O açaizeiro demonstra ser uma das espécies vegetais com grande potencial de aproveitamento por pequenos produtores seringueiros e populações ribeirinhas, desde que explorado de modo sustentado.

O fruto e "vinho" de açaí possuem um mercado regional muito forte, por ser um dos principais alimentos na região, cujo consumo, só na cidade de Belém, é estimado em 180 mil litros/dia.

Um dos grandes problemas do comércio do açaí é a característica altamente perecível do "vinho", não resistindo mais de 72 horas, mesmo sob refrigeração. Para contornar esse problema, o Centro de Pesquisa Agropecuária da EMBRAPA, em Belém, desenvolveu uma tecnologia para a obtenção do açaí desidratado.

Outro método que está sendo utilizado pelas indústrias de sorvetes da região, é submeter o suco "concentrado" à temperatura de 40ºC preservando grande parte de suas propriedades.

Com a difusão desta tecnologia nas cooperativas e indústrias, a atividade extrativa poderá beneficiar-se da expansão da demanda em todo o país, intensificando as técnicas de manejo do açaizal e ampliando os lucros oriundos de sua exploração.
A demanda pelo açaí fora da região também está em alta, apresentando o produto muito boas possibilidades de mercado, de modo particular no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No Rio, seu "vinho" já é servido nas praias, diretamente ao consumidor, onde a demanda por esse produto, até há pouco considerado exótico, é crescente e começa a ganhar popularidade entre os cariocas e turistas.




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