21 de mar. de 2009

Desova de estoques mundiais está aniquilando a indústria brasileira

Se alguma dúvida havia quanto ao Brasil estar se tornando "valeta de desova" dos excedentes mundiais de calçados, os fatos acabam de derrubá-la.

Os números das importações de janeiro divulgados pela SECEX mostram que em janeiro as importações de calçados e suas partes tiveram um novo aumento explosivo: os US$ 37,4 milhões importados este ano representam um crescimento de 35% sobre janeiro de 2.008 e de 214% sobre janeiro de 2.007.

Isto depois de as importações de dezembro já ter registrado um aumento de 48% sobre dezembro de um ano antes.

É notável o valor absoluto das importações. Janeiro é um dos meses mais fracos de vendas para a indústria de calçados, apesar disto o valor das importações é superior a qualquer mês do ano passado; mesmo em outubro - um dos meses mais fortes para as vendas da indústria - as importações haviam sido de US$ 33,2 milhões e em novembro de US$25,9 milhões...

O fato é ainda mais grave quando está em curso processo de investigação sobre a prática de dumping pelos exportadores chineses, responsáveis por mais de 85% do total de pares importados pelo Brasil. Em dezembro a SECEX publicou portaria dando início ao processo de investigação baseada na constatação preliminar de que havia dano à indústria nacional e prática de dumping com a expressiva margem de 435,7%. Este fato leva a crer que os importadores estariam formando estoques diante da iminente imposição de tarifa anti-dumping.

Enquanto perduram tais práticas de comércio desleal, a indústria nacional definha.
De outubro a dezembro a indústria de calçados perdeu 42 mil empregos com carteira assinada, 29 mil deles apenas em dezembro. As perdas representam 12,5% dos 336 mil trabalhadores diretos da indústria em setembro último.

A ABICALÇADOS vem, há algum tempo, alertando quanto a este movimento de desova de excedentes mundiais de estoques no mercado interno brasileiro. As grandes empresas mundiais de calçados, que dominam grande parte do comércio internacional, vêem-se às voltas com estoques inadministráveis, em razão da forte queda de consumo nos Estados Unidos e na Europa. É evidente que a desova destes excedentes somente pode ser feita em países de grande mercado interno e que sejam abastecidos substancialmente pela indústria local. É nestes dois quesitos que o Brasil se encaixa com primor e por isto tem sido eleito como "valeta de desova" preferencial.

Os números de queda no emprego preocupam não apenas pela sua expressão, mas, sobretudo, pela sua composição. Há uma grande concentração de demissões em São Paulo e em Minas Gerais, além do Rio Grande do Sul, estados que abrigam, sobretudo, as pequenas e médias empresas.

Parece que as grandes empresas instaladas principalmente no Nordeste, mais estruturadas e com maior acesso ao crédito, conseguiram, até o momento, contornar as demissões com programas de férias coletivas, mas este paliativo está se esgotando e os níveis de estoques que tais empresas vêm acumulando aumentam nossas preocupações quanto ao comportamento do emprego nos meses futuros.


Os técnicos do MDIC estão procedendo a uma análise detalhada das importações da China para a confirmação da prática de dumping e imposição de tarifas compensatórias. Do sucesso desta investigação dependerá, em grande parte, o desempenho futuro da indústria brasileira de calçados.

Milton Cardoso
Presidente da ABICALÇADOS



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