9 de mar. de 2009

Personagens da crise

Com o advento de qualquer crise, quatro personagens salientam-se aos nossos olhos. São personagens, presentes o tempo todo, mas, quando estamos embebidos em nossas responsabilidades diárias, simplesmente passamos por eles, sem ao menos percebermos sua existência e, o quanto interferem em nossas vidas e, em nossas decisões. Falo dos derrotistas, dos determinados, dos vencedores e dos oportunistas. Quem são os derrotistas? São aqueles que sofreram algum revés em suas vidas, seja ele de caráter pessoal ou profissional e, atiraram-se em uma depressão quase que irreversível. Sem o apoio de outras pessoas e até de aconselhamento profissional não conseguem se mover um milímetro para fora deste estado letárgico. Nas crises financeiras este é um dos grupos que mais tende a crescer. O segundo grupo é o dos determinados. São pessoas que, mesmo atingidas por reveses, ou não, entendem a crise como um momento extremamente oportuno para desenvolver ainda mais sua capacidade criativa. Buscando oportunidades de vitória onde outros enxergam apenas derrotas. São aqueles que, mesmo no meio da mais terrível tempestade, assumem o comando de seu próprio navio, lutando ferozmente contra as investidas violentas dos vagalhões que tentam a todo o custo atirá-los contra os rochedos. São pessoas que sabem que lá na frente, o mar se acalmará, e que então poderão encher suas velas novamente singrando os mares rumo ao sucesso. O terceiro grupo é o dos vencedores. Este, sem qualquer margem para discussão, é o mais cobiçado por todos. Mas, e por incrível que pareça, é o grupo onde mais encontramos elementos oriundos dos dois grupos anteriores. São pessoas que aprenderam com crises anteriores, são pessoas que praticamente perderam tudo em suas vidas, mas, souberam manter a temperança, o equilíbrio, a força de vontade, a criatividade, o comprometimento, o esforço, o objetivo centrado e uma inquebrantável determinação na recondução de seus negócios. Hoje, são os vencedores, aqueles que sabem que o desejo em “dar o passo maior do que a perna” não deve se sobrepor à sua própria capacidade de crescer. São aqueles que não baseiam suas riquezas com o dinheiro alheio. São pessoas que não se deixam hipnotizar pelos agressivos apelos de uma máquina consumista desenfreada, ainda que tenham plena consciência de que é através do consumo que a roda da economia gira. Mas, deve girar a uma velocidade compatível com a estrutura que a cerca, evitando assim, um fenômeno que conheci quando exportava motores diesel, chamado “over speed”, ou seja, uma sobre velocidade incontrolável que acaba por destruir o motor na maioria das vezes. Entretanto, os vencedores aplicam o consumo racional, não o consumo doentio, inexplicável, incompreensível, destruidor e altamente comprometedor muitas vezes alimentado por uma máquina ainda mais voraz. A máquina do dinheiro fácil que se rege pela doutrina de que o que nos chega fácil, mais fácil vai embora. Os vencedores são as formigas, lembrando a fábula onde o gafanhoto só pensava em diversão. Mas, são formigas que, além de trabalhar, também aproveitam a vida de maneira equilibrada no período de vacas gordas, nunca esquecendo-se de que as vacas magras, às vezes, resolvem pastar também. O último grupo é o dos oportunistas e aqui a lista é enorme. E é neste grupo que peço mais atenção. Vão desde pseudo-escritores de questionáveis obras de auto-ajuda (que como a própria característica diz só ajuda aos que as escrevem). Passando por espertalhões esotéricos que garantem o sucesso, bastando para tanto esfregar a boina do duende. Ou, de outras tantas quinquilharias do ocultismo que espalhamos sobre nossas mesas de trabalho, imaginando a criação de um campo magnético que nos proteja de uma ligação do RH, mas, que ao final, só servem mesmo para acumular pó e mostrar o quanto somos inseguros quanto às nossas reais capacidades e que são vendidos por módicas quantias de dinheiro. Incluo ainda os “neo-gurus-consultores” e, suas palestras oferecidas a peso de ouro, com seus neologismos corporativos (reengenharia, encantamento, empowerment, empreendedorismo, foco no cliente e tantos outros termos) e que no final resultam e uma conta enorme a pagar que inclui hotel, estadia, transporte, refeições, bebidas, aluguel de equipamento de multimídia e é claro, os honorários do respeitável palestrante. E um monte de apostilas recicláveis que acabam ficando no fundo de nossas gavetas embaixo de um monte de outros papéis. Estes são os resultados tangíveis do processo, mas, e os intangíveis? Quem pode mensurar as conseqüências de uma velada falta de espírito de equipe por parte daquele membro que se sentiu menosprezado por não ter sido convidado para a tal palestra naquele hotel paradisíaco? Basta uma atitude equivocada, mas, proposital e, aquele cliente, conquistado a duras penas, graças aos “métodos miraculosos apresentados pelo miraculoso palestrante” e vai tudo por água abaixo. Comprometimento e reconhecimento estão intimamente conectados. Quanto maior a exigência em um, maior a esperança no outro. Não devemos nos esquecer que o espírito de equipe funciona tanto para cima, como para baixo, tal qual um elevador. Outro subgrupo de oportunistas envolve algumas empresas de recursos humanos, head-hunters, outplacement, consultoria de RH e inúmeras outras maneiras imponentes de dizer “comercializamos vagas inexistentes e para isso queremos seu dinheiro, pois sabemos que você está desesperado e pagará por nossos serviços”. Este é o subgrupo mais perigoso. Porque envolve dinheiro, o seu dinheiro, através de uma proposta “tentadora, melodiosa”, mas, que na verdade não passa de uma armadilha, um embuste. Por ser simples demais a estratégia, muitas pessoas nem desconfiam do golpe. Abre-se uma empresa, normalmente um pequeno escritório localizado em algum bairro de classe média alta. Bem decorado, transpira um ar de seriedade e de profissionalismo. Disponibilizam vagas através de jornais ou mesmo através de empresas idôneas. Muitas das vagas não existem, algumas são na verdade obtidas de dentro de algumas empresas graças a uma rede de contatos. Uma vez divulgada a vaga, recebem uma verdadeira avalanche de currículos. É feita uma primeira triagem e então começam os contatos carregados de frases positivas, motivadoras que envolvem o potencial candidato. Ao final, quando percebem que a isca foi mordida, apresentam as condições. O candidato deverá custear o processo de consultoria da empresa. Normalmente através de três cheques de valores consideráveis. Notem que até este momento o nome do eventual verdadeiro contratante jamais foi mencionado por tratar-se de “ética profissional”. Existem os candidatos que não aceitam e existem aqueles que já sacam do talão na hora. O resultado é quase sempre previsível. Após descontarem o terceiro cheque alegarão que a empresa contratante fechou a vaga ou fez uma seleção interna. Mas, que o candidato não se preocupe, pois seu currículo permanecerá ativo no banco de dados da empresa. Imaginem a seguinte situação. De 1.000 currículos recebidos, apenas 10% aceite pagar pelos serviços e que cobrem três cheques de R$ 300,00 cada, totalizando R$ 900,00. Conseguem apenas para uma vaga R$ 90.000,00. Outra forma de iludir o candidato é fazendo-o crer que se ele não fizer um tal de “exame psicológico” em clinica por eles indicada, o contratante poderá não aceitar o seu currículo. Lá se vão mais cem, duzentos reais jogados fora. Um belo negócio, não? É claro que, entre as falsas eles comercializam algumas vagas verdadeiras, para não dar “tanto na vista”. Então o que fazer para se proteger destes estelionatários? Antes de sair para a entrevista, pergunte a quem está te telefonando se existe ou não algum tipo de cobrança? Confirme o nome da empresa, o seu CNPJ, quem são os diretores, os proprietários, pergunte se a pessoa pode lhe passar o nome de alguma empresa que já tenha realizado contratações através deles, verifique em sites de empresas idôneas se o nome desta empresa não figura na lista negra. Peçam uma cópia do contrato por e-mail, leiam atentamente, consultem um advogado. Enfim, protejam-se de todas as maneiras possíveis. Absurdo? Pois acreditem, mesmo com todas estas precauções, muita gente ainda é lesada e nem sabe, afinal, o porquê de não terem sido contratados jamais será revelado. O último subgrupo dos oportunistas são os comerciantes da fé. Aqueles que se aproveitam de um momento de desespero alheio fazendo as pessoas acreditarem que são “ungidos por algum poder divino” e com a capacidade de restituir tudo aquilo que foi perdido. Claro que isso possui um custo. Um custo chamado dízimo. O infeliz entrega todo mês uma considerável parcela do pouco que lhe resta, quando este pouco poderia ser economizado para uma eventual passagem de ônibus até uma entrevista. É por isso que eu prefiro me referir a esta força que nos move como determinação e não fé. Porque determinação é algo seu e fé é algo que você precisa ter em outro ou em algo. Se este outro ou este algo falharem, você perde e então dirão que você não teve fé suficiente ou, seu dízimo estava aquém das expectativas divinas. Não acredito nesta história de céu e inferno. Para mim é crise e oportunidade e que devem ser tratados com determinação. Outro dia fiz uma conta bastante simples. R$ 100,00 entregues todo mês a título de dízimo somariam ao final de um ano R$ 1.200,00 o que representa três ou quatro mensalidades em uma faculdade. Mas, esta é uma questão particular a cada um, acreditar na fé ou na determinação.

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